Por Ralf Rickli
Introdução
Neste
início de século XXI existem mais de mil brasileiros com sobrenome Rickli - ou Ricklis sem o sobrenome expresso, por descenderem por via materna -
que são todos descendentes de Johann
Ulrich Rickli e Rosine Weber,
suíços, que chegaram ao Brasil em 21 de
outubro de 1869.
Também
existem alguns outros Rickli no
Brasil que não descendem desse casal, e que não parecem ser muito numerosos.
Tivemos
pistas de que há alguns, por exemplo, na região de Rio do Sul, Santa Catarina.
Não é impossível que tenham algum tipo de parentesco mais distante, mas até
hoje não conseguimos descobrir.
Vegetação característica da região de Turvo-Pr |
•
alguns cadernos e livros de Johann
Ulrich guardados em uma caixa no Turvo (Paraná) durante décadas pelos
descendentes de "Ernesto Velho",
um dos filhos do casal, e que passaram às mãos do meu pai Otto Rickli na década de 1970;
• os
livros do Cartório de Registro Civil de Rohrbach, no Cantão de Berna, que
pudemos verificar pessoalmente por cortesia da cartorária Sra. Rosmarie Jäggli
em julho de 1991;
•
informações descobertas em 2003 e 2004 há poucos anos pelo Prof. Wolbert Smit,
do Instituto de Estudos Etiópicos da Universidade de Hamburgo, que fez
pesquisas nos arquivos da Pilgermission na Suíça - e a quem nunca seremos
suficientemente gratos pelas informações que compartilhou.
RESPOSTA A UMA PERGUNTA FREQÜENTE
Os Rickli brasileiros não têm direito à
nacionalidade suíça.
De
acordo com informações oficiais solicitadas no início dos anos 90, isso só
seria possível se Johann Ulrich
houvesse registrado cada um dos seus filhos num consulado suíço, e cada um
desses filhos houvesse registrado seus filhos, e assim por diante. Essas
informações teriam sido obrigatoriamente repassadas ao cartório da região de
origem da família, em Rohrbach, no Cantão de Berna.
Verificamos
pessoalmente os livros em Rohrbach em 1991, e a última referência a Johann Ulrich é uma anotação a lápis
'casou na América'. Não há nenhum registro de descendentes. Foi quebrada a
corrente do registro, e de acordo com a lei suíça (diferente da alemã ou da
italiana) não há possibilidade de restabelecê-la.
Na
ocasião conhecemos também o Sr. Werner
Hermann, neto da única irmã de Johann
Ulrich que permaneceu naquela região. O Sr. Hermann, recém-viúvo com mais de 80 anos, nos recebeu com extrema
cordialidade - porém seus próprios filhos e netos, que vivem em Bern e Zürich,
não parecem ter mostrado interesse em manter contato.
SOBRE ESTE TEXTO
Este
texto foi concebido como parte do Encontro da Família Rickli em
janeiro de 2000, em Ponta Grossa (PR), onde foram comemorados os 130 anos da
família - e no entanto só 4 anos depois conseguimos colocar as primeiras
informações no ar.
Não
sabemos praticamente mais nada além do que está neste texto, e atualmente não
temos nenhuma condição de pesquisar mais - trabalho que demanda muito tempo e dinheiro
para manutenção, o que não temos.
Ainda
assim, se alguém quiser contribuir com informações adicionais - ou trocar ideias
sobre as informações já existentes no texto – agradecemos que entre em contato
pelo nosso e-mail rrtrop@gmail.com.
1. Quem eram os Rickli na Suíça
Seria possível descobrir com
precisão: os cartórios e outros arquivos suíços guardam dados de muitos
séculos. Só que isso exigiria muitos dias de pesquisa, em alemão e em
manuscrito gótico, em diferentes arquivos, os quais normalmente cobram pelas
consultas - pagando hospedagem a preço suíço!
Hoje isto não parece ser
prioridade na vida de nenhum dos Rickli brasileiros - então temos que nos
contentar com suposições, com base em alguns poucos pontos firmes.
Ao que tudo indica...
... a vida não era muito
diferente da dos Rickli do Brasil até a década de 1960: agricultores, alguns
marceneiros, alguns podiam entender de moinhos... e quem quisesse estudar ir
além do estudo fundamental só tinha uma opção de carreira: a religiosa.
Só que em lugar do Instituto
Cristão em Castro (PR) e do José Manoel da Conceição em Jandira (SP), onde
tantos Ricklis brasileiros estudaram... existia o instituto de Sankt
Chrischona, nos arredores de Basel (ou Basiléia), a maior cidade da Suíça.
Não se deve pensar que era uma
vida de abundância, pelo fato de que Suíça hoje é sinônimo de riqueza. O único
parente com que tivemos contato, dos que permaneceram lá, falou de muita fome
na infância e juventude, os pais morrendo de tuberculose - isso entre 1910 e
1930. Nossos ancestrais saíram de lá meio século antes - mas se tanta gente
estava emigrando a coisa não devia ser melhor. Nem todos eram missionários e
professores, como Johann Ulrich, o
'pai' dos Rickli do Brasil.
2. A região de origem
Trata-se
do baixo vale do Emmen - Unteremmental - no Cantão de Berna (Kanton Bern -
cantões são as diferentes regiões que se uniram no Século 13 formando a
Confederação Helvética, nome oficial da Suíça).
O baixo vale do Emmen vive basicamente de
fazer queijo, do mesmo modo que o irmão mais famoso, o Emmental (sem Unter-),
que deu nome ao queijo suíço mais famoso, com o qual se faz a 'fondue'. -
Comida de rico? Lá a coisa era diferente: nos longos invernos não havia nada
mais pra comer além de pão e queijo já ressecado, aí o pessoal inventou um
jeito de fazer uma panelada derretida e temperada e ir comendo com pãozinho...
A
família de Johann Ulrich morava na
pequena Kleindietwyl (hoje se
escreve com i). O cartório onde foi registrado fica em Rohrbach, uns 4 Km
adiante, e ainda um pouco adiante fica Huttwil, centro comercial da região.
Ficam todas ao longo de um ramal ferroviário que liga Langental a Huttwil.
Fato
curioso: poucos dias depois de ter estado lá em 1991, reencontrei o nome da
desconhecida Kleindietwil no local onde eu trabalhava na época, o Instituto
Biodinâmico em Botucatu - como sede de uma das maiores federações de
agricultura orgânica na Europa!
3. A família de Johann Ulrich
Johann Ulrich (1865), Cairo |
Em
1991 pudemos ver rapidamente os livros do cartório de Rohrbach, pois a pessoa
responsável estava saindo de viagem. Pudemos apenas anotar o nome do avô e mais
alguns dados sobre os pais e irmãos de Johann
Ulrich.
O
avô de Johann Ulrich se chamava Johann Jakob (Jacó). O pai era também Johann Ulrich e nasceu em 1803. Casou-se
aos 30 com Anna Barbara, 6 anos mais nova. Os dois faleceram na década de 1870,
no período em que seu filho Johann
Ulrich vivia em Santa Catarina e tinha seus próprios três primeiros filhos.
'Nosso'
Johann Ulrich foi o segundo de seis
irmãos - porém a primeira irmã já havia falecido antes do seu nascimento. Na
prática foi o mais velho. O irmão seguinte, Johannes, viveu 63 anos, ao que parece na região. Teve apenas uma
filha, que morreu solteira. Já a irmã 9 anos mais nova, Anna Maria, ficou na região, casou-se com um marceneiro de
sobrenome Hermann e teve 6 filhos. De um deles (Samuel) nasceu em 1913 o Sr.
Werner, que me recebeu em sua casa em Huttwil.
Johann Jakob
(neto) era 14 anos mais novo. Casou-se quando Johann Ulrich já estava no Brasil, teve 4 filhos que sobreviveram.
Mudou-se para a região de Basel, e depois 'para a América'. Onde? Se veio atrás
do irmão, serão descendentes dele os Rickli desconhecidos que ouvimos dizer que
há em Rio do Sul (SC)? Ou foi para os Estados Unidos, onde há outros Rickli? Da
última irmã, Anna Barbara, não há
nada nos livros exceto o nascimento. Será a Barbara Rickli que em 1875 foi testemunha de batismo do nosso avô
João, em Pedreira? Ela teria então 21 anos. Terá deixado descendentes?
Johann Ulrich (1921), Turvo |
4. Johann Ulrich no Seminário de
Chrischona
Falta
esclarecer vários detalhes neste ponto. Em 1860 ele parece ainda estar em
Kleindietwyl. Em um caderno há registro de uma pregação na cidade de Murten em
1861 (24 anos) - mas não está claro se a pregação foi dele. O certo é que nos
anos entre 1862 a 1865 ele deve ter estado estudando no seminário de Chrischona
[pronúncia: "crichôna"], na vila de Sankt-Chrischona, sede da Missão
dos Peregrinos (Pilgermission).
A
missão havia sido fundada em 1833, e em 1840 assumiu por aluguel simbólico a
área onde havia a antiga capela de Sankt-Chrischona, então em ruínas. Daí vem o
nome. Sobre a linha denominacional dessa missão, veja o ponto 7.
St. Crischona
foi considerada a primeira escola de evangelistas de língua alemã. Via-de-regra
seus missionários não eram ordenados pastores: deviam inserir-se na sociedade
com uma profissão comum, e fazer de toda sua vida uma missão.
Johann Ulrich foi
treinado para ser professor, e é identificado como professor em todos os relatórios
da missão. Com toda probabilidade, isso quer dizer o antigo 'mestre-escola', um
'professor primário' que ensinava um pouco de todas as disciplinas por vários
anos. Porém existe também a informação de que ele exerceu ao longo da vida a
ocupação de vender literatura de evangelização por onde passava – e atividades
comerciais que ajudassem no custeio da missão também eram parte da regra.
Os
cadernos sugerem que sua formação foi forte em geografia, história, história
natural (ciências), geometria, desenho, inglês - a música estava presente,
porém não com a profundidade que se podia imaginar. Além disso, disciplinas
teológicas: história da igreja, dogmática etc., e muito estudo bíblico.
Vê-se
ainda que conhecia o francês (a língua materna da futura esposa), e há diversos
livros de estudo de árabe para a missão.
Por
outro lado, não há em seus cadernos nenhum sinal do estudo de grego, latim ou
hebraico, o que reforça a imagem de que não se tratava de uma formação
tradicional em teologia.
Johann Ulrich
aparece nos relatórios como formado em 1865, porém mais tarde há referência de
que tinha sido enviado ao Egito com o curso incompleto - mas veremos isso
adiante.
5. A missão no Egito
Em
fevereiro de 1865, um mês antes de completar 28 anos, Johann Ulrich está num navio chamado Germânia com destino ao
Oriente Médio. O navio passa pela Grécia e Turquia, e ao que parece o destino
final era Calcutá, na Índia – com certeza com baldeação, pois o Canal de Suez
já estava em obras mas só foi inaugurado quatro anos mais tarde.
Sua
missão: junto com os 'irmãos' Gutberlet, Raible e Schlotthauer, fundar na
cidade de Assuã, no Egito, a Estação Missionária Apóstolo Pedro – parte de um
projeto missionário chamado Estrada dos Apóstolos.
Esse
projeto era a menina dos olhos do Dr. Johannes Ludwig Krapf (1810-1887), famoso
por ter sido, junto com outro missionário, Johannes Rebmann, o primeiro europeu
a ver o Monte Kilimandjaro, ponto mais alto da África e maior montanha isolada
do mundo.
Apesar
de a Etiópia ser um império cristão-ortodoxo há uns 1.500 (mil e quinhentos)
anos, seu sul era dominado por um povo pagão, os Galla ou Oromo. O Dr. Krapf
acreditava que esse povo era a chave para a evangelização de toda a África,
tanto que traduziu e imprimiu os primeiros textos nessa língua: um trecho do
Evangelho de João em 1939, e o Evangelho de Mateus em 1841 - o qual tem
papel-chave nesta nossa história!
Para
isso, Krapf imaginou uma 'estrada' de doze estações missionárias atravessando o
Egito e o Sudão até a Etiópia, e garantindo o trânsito de missionários entre a
Europa e o coração da África: a Estrada dos Apóstolos.
Uma
dessas estações era a São Pedro, em Assuã, perto das cataratas do Nilo, e Johann Ulrich foi um dos quatro
encarregados de estabelecê-la. (Os evangélicos da Europa, mesmo não cultuando
santos, não vêem nenhum problema em usar o título tradicional 'são' ou
'santo').
O
relatório da Missão dos Peregrinos publicado em dezembro de 1866 diz que,
depois de muita busca, os quatro acharam uma casa adequada e saudável, e que
passavam agora a estabelecer contato com os moradores, criar uma escola e algum
comércio que ajudasse no sustento da missão.
Dois
anos e pouco depois, porém, o relatório diz que em 1868 os missionários Rickli, Reible e Rein, voltaram à Suíça
junto com o missionário Eipperle, que voltou da cidade de Metemma com esposa,
filho e uma menina galla. Passaram uma temporada tratando da saúde, depois do
que Rein e Reible casaram e foram enviados "para a América", enquanto
Rickli foi completar seus estudos,
pois havia sido enviado ao Egito antes de concluir algumas disciplinas. - Johann Ulrich ficou portanto mais um
ano letivo europeu em St.Chrischona: os últimos meses de 1868 e o primeiro
semestre de 1969.
Surgem
naturalmente algumas perguntas, finalmente respondidas graças à pesquisa do
Prof. Wolbert Smidt:
1)
Por que saíram do Egito? Uma razão foi a saúde, como já vimos. Outra, que em
1867-68 o imperador etíope mandou aprisionar todos os estrangeiros, inclusive
todos os missionários e o embaixador inglês. Como era de esperar, os ingleses
responderam com uma violenta invasão. Nesse processo todo, os projetos da
Pilgermission na Etiópia foram por água abaixo. Numa carta de 1869, o velho Dr.
Krapf se queixa desses missionários jovens, que desistem diante das primeiras
dificuldades... Mas ao que parece a dificuldade não era pouca e a própria
direção da Pilgermission mudou de ideia...
No
início de 2004 o Prof. Wolbert Smit descobriu alguns boletins da Missão do
Peregrino, que por alguma razão não foram arquivados na sua sede, com relatos
de missionários espalhados pelo mundo. Em um deles aparece um relato escrito
por Johann Ulrich em Alexandria em
junho de 1868. Ao que parece ele já não vivia em Assuã, e foi uma das pessoas
que ajudaram a receber 31 refugiados dos acontecimentos na Etiópia - homens,
mulheres e crianças. O estilo do relato é bem interessante, nada convencional,
quase artístico. Pretendemos traduzi-lo e publicá-lo em nosso site ainda no
primeiro semestre de 2004.
2)
Por que a América? Com a falência do projeto africano, a Pilgermission resolveu
redirecionar as forças para as colônias de fala alemã nos Estados Unidos e no
Brasil, que estavam crescendo muito e, no seu entender, precisavam de
atendimento espiritual. Os antigos da família diziam que Johann Ulrich veio como capelão de um navio de imigrantes; se tinha
efetivamente o cargo de capelão, não sabemos, mas seu papel era sim, dessa vez,
ser missionário entre seu próprio povo numa nova terra.
3)
Nessa história, qual o papel do Evangelho de Mateus em língua galla (ou oromo)?
Os livros de Johann Ulrich guardados
em uma caixa no Turvo durante décadas incluíam um exemplar dessa tradução.
Provavelmente veio na bagagem dos quatro missionários que voltaram à Suíça em
1868 trazendo consigo uma menina galla para educar.
Foi
esse livro que permitiu desvendar os pontos mais difíceis da história, pois
buscando referências a ele na Internet descobrimos o Instituto de Estudos
Etiópicos da Universidade de Hamburgo, e o Prof. Wolbert Smidt – que se
interessou pelo caso e foi pesquisar na Suíça, entre outras coisas porque
parentes seus também vieram para Joinville na mesma época (família Lange).
A
parte isso, nossa pesquisa só encontrou um outro exemplar desse livro no mundo:
na biblioteca da Universidade de Cambridge, Inglaterra. A Sociedade Bíblica
Mundial e a Norte-Americana sabiam da existência dessa tradução, mas nunca
viram. Apesar disso, entendidos disseram que o livro não tem valor comercial,
por seu interesse ser restrito a especialistas.
Tendo
em vista isso, colocamos a reprodução das primeiras e das últimas páginas desse
livro na Internet, dispondo-nos a enviar cópias a qualquer estudioso sério.
Está em www.tropis.org/afro/krapf1.html.
Fotocópias já foram para o Instituto de Estudos Etiópicos em Hamburgo e para a
Universidade de N'Djmena, no Tchad, África.
6. Johann Ulrich no Brasil
Porto de São Francisco do Sul - SC, local de desembarque de Johann Ulrich |
Em
outro dos boletins descobertos pelo Prof. Wolbert Smit, aparece a notícia de
que Johann Ulrich desembarcou no
Brasil em 21 de outubro de 1869, acompanhado "da noiva e irmã do Irmão
Weber".
Isso
significa que Jacques (ou Jacó) Weber, de quem temos arquivado um livro
religioso em francês, também era missionário – e essa irmã só pode ser Rosine Weber, com quem se casou em 9 de
janeiro de 1870, em Santa Catarina.
Segundo
o relato de outro missionário, poucos dias depois de chegar ao Brasil Johann Ulrich começa a atuar como
professor em Pedreira e em outra colônia.
Em
agosto de 1871 ele mesmo escreve outro relato para o boletim da missão. Entre
outras coisas, conta que levava três horas para chegar ao correio, fala das
dificuldades de ser um professor de orientação bíblica num meio onde a moda era
ser "racionalista ou livre-pensador" – e conta também que tinha que
trabalhar na roça para ajudar a garantir seu sustento. Num trecho curioso,
descreve como é e como se planta a mandioca, "batatas parecidas com
raízes, com 1 a 3 pés de comprimento". Gostaríamos um dia de traduzir e
publicar esse relato, se um dia tivermos disponibilidade de tempo para isso.
Johann Ulrich ainda
é mencionado na lista de endereços dos relatórios internos de St.Chrischona de
1874, 1880 e 1888. No primeiro caso o endereço é Pedreira (atual Pirabeiraba),
Colônia Dona Francisca. Nos dois seguintes é 'Coritiba'. Juntando com dados da
capa da Bíblia e alguns outros, temos o seguinte quadro (destacamos algumas
perguntas que ficam e que seria interessante pesquisar):
• Anos 1870:
Com
quase 33 anos, Johann Ulrich se casa
com Rosine Weber, ela com 23 e meio.
Vive como professor e missionário em Pedereira (Pirabeiraba), Santa Catarina.
Até 1875 nascem os filhos Johann Paul (Paulo), Samuel Robert (Roberto) e Johann Ulrich (como o pai e o avô,
conhecido por João). Em 1877 e 1879 (ainda em Pedreira?) nascem uma menina e um
menino que não sobrevivem.
Note-se
que entre as testemunhas estão sempre diversos Weber: Jean, Jacques, Ernestine
(Tine), provavelmente cunhados ou outros parentes de Rosine. Esses Weber tinham
o francês como língua mãe, e restaram até hoje alguns livros seus em francês
(naturalmente religiosos). Os Weber conhecidos atuais dos Rickli são
descendentes desses? É bom lembrar que Jean e Jacques seriam conhecidos como
João e Jacó. Entre as testemunhas também aparece Barb.Rickli: seria sua irmã
mais nova, Anna Barbara? E o que foi feito dela depois?
• Anos 1880:
Com
43 anos, Johann Ulrich está com
certeza residindo em Curitiba. Quando exatamente chegou aí? Se foi nesse ano,
meu avô João estava com 5 anos - o que explica sua saudade, na velhice, do chão
de areia: o chão em que brincava na sua infância em Santa Catarina...
A
família reside em Curitiba no mínimo 8 anos, talvez até 20. Em Curitiba nascem
Anna, Bertha Rosine (Bertha) e Ernst Arnold (mais tarde chamado Ernesto o
velho). Uma das testemunhas é J.Hermann: seria parente de seu cunhado
marceneiro que ficou na Suíça?
Ao
nascer o último filho, Rosine estava com 40 anos, Johann Ulrich com 49. Paulo, o mais velho, já ia fazer 16... Assim
era a família do Professor Rickli em
Curitiba dois anos antes da proclamação da República.
Além
disso, é atestado oficialmente que esse professor também colaborava
pastoralmente com as atividades da Igreja Luterana de Curitiba (sobre a questão
da denominação, veja logo adiante), na chamada Rua dos Alemães (Rua Trajano
Reis).
• 1900:
Devido
a um cartão enviado de Amsterdam, sabemos que ao raiar do século XX Johann Ulrich vivia em Imbituva, então
uma vila chamada Cupim - onde também se atesta que colaborou com a Igreja
Luterana.
Em
1900 os filhos homens tinham 29, 27, 25 e 13 - e Johann Ulrich já estava para fazer 63!
A
instalação dos filhos no Rio dos Patos - Manduri - Boa Vista já tinha começado?
Quando
foi que a família se arrancou da calmaria de Curitiba para essa nova fase de
aventura e desbravamento, que iria ser bem mais longa que os 2 anos e meio no
Egito? Ainda estamos para descobrir.
Em
1921 Johann Ulrich falece no Turvo
(então parte de Guarapuava, hoje município independente) com 84 anos.
O
terceiro filho, João, já tinha tido 12 de seus 14 filhos com Bertha Hecke, e ainda morava na Boa
Vista, perto dos irmãos mais velhos, só alguns passos além de Imbituva. Já o
filho mais novo estava com 36, e Johann
Ulrich e Rosine o haviam seguido para além do Rio dos Patos (Ivaí) e da
Serra da Esperança, para o 3.º Planalto do Paraná. Em que ano foi que chegaram
ao Turvo? Como?
Rosine
faleceu dois anos depois, com 77 anos. Aí a história da família já havia
passado a ser a dos filhos e netos - uma história que também precisa ser
escrita mas que nem sabemos se um dia poderemos fazê-lo!
Por
enquanto, concluímos com algumas constatações que nos parecem do interesse de
todos.
7. Johann Ulrich era de que igreja?
Essa
pergunta tem sido feita com certa frequência. Talvez em outra família ninguém
se preocupasse com isso, porém até há poucos anos nascer Rickli no Brasil era praticamente nascer parte de uma ordem
religiosa - e isso talvez justamente devido à ideologia da Missão dos
Peregrinos, de que todos os crentes são sacerdotes e missionários, independente
da profissão.
Christian
Friedriech Spittler, que fundou a missão em 1833, considerava-se membro de uma
'Sociedade da Cristandade' supra-denominacional, mas teve formação luterana. A
Missão dos Peregrinos, ou Comunidade de Chrischona, é uma igreja autônoma na
Suíça e na França. Na Alemanha foi oficializada como 'uma obra', um movimento,
dentro da Igreja Evangélica Luterana.
O
mais importante para compreendê-la é saber que se trata de um ramo do chamado
movimento pietista. Esse movimento surgiu por volta de 1770 como reavivamento
dentro da Igreja Luterana - que, 250 anos depois da Reforma, tinha se tornado
pesadamente institucional.
Não
devemos pensar que esse avivamento se expressasse com os mesmos gestos e ritmos
que os avivamentos dos séculos XX-XXI, pentecostais ou não. Talvez a grande
marca seja trazer a religião fortemente para dentro da vida cotidiana das
pessoas comuns. No Sul do Brasil, um exemplo de luteranismo modulado pelo
pietismo é a Igreja do Cristianismo Decidido.
Porém
a influência do pietismo foi muito além dos círculos luteranos. Vimos na
Internet, por exemplo, que o instituto de Chrischona mantém laços com os
menonitas (ou anabatistas) norte-americanos. Foi com o impulso pietista que
John Wesley atuou dentro da Igreja Anglicana, gerando o metodismo. E, de acordo
com um artigo bastante especializado publicado em http://www.cristianet.com.br/historia/arquivo/outros/o_pietismo.html,
havia forte influência pietista no seminário de onde vieram para o Brasil os
primeiros missionários presbiterianos norte-americanos.
Um
ponto a descobrir é: em que momento a família Rickli se ligou à Igreja Presbiteriana do Brasil, trazida pelos
missionários norte-americanos? Em que momento perdeu o contato com a
Pilgermission de Chrischona?
Em
uma coisa podemos 'apostar' com bastante segurança: a família se identificou
com essa Igreja Presbiteriana devido ao caráter pietista que ela trazia, e não
devido a suas origens calvinistas. Não estamos fazendo um julgamento disso – se
é bom ou ruim, certo ou errado... – estamos apenas relatando um fato.
Na
verdade, até hoje não encontramos nenhum traço da Igreja Reformada Suíça nos
livros e na história de Johann Ulrich
Rickli. Por outro lado, não faltam evidências de ligação com pessoas e
instituições de origem luterana-pietista – por exemplo, o Dr.Krapf, ou livros e
hinários da editora fundada em Calw (Sul da Alemanha) pelo avô do escritor
Hermann Hesse (aliás, enquanto Johann
Ulrich cursava suas últimas disciplinas em 1868, na vizinha Basel o pai de
Hermann Hesse, Johannes, preparava-se em outro instituto pietista para sua
missão na Índia. Terão se encontrado alguma vez?).
Não
é de estranhar, portanto, que no Brasil Johann
Ulrich tenha se ligado às comunidades luteranas – mas também não que mais
tarde a família tenha se juntado ao presbiterianismo dos missionários
americanos... justo por encontrar aí mais pietismo que nas comunidades
luteranas!
Para
finalizar, duas observações que pareceram interessantes:
• O
site da Missão dos Peregrinos na Internet www.chrischona.ch
diz hoje (29.12.2003) que a grande marca distintiva do movimento é a vida em
comunidades que, mesmo não sendo estritamente de pessoas de uma família, têm um
caráter fortemente familiar, envolvendo desde as crianças até os velhos. Para
quem conheceu o estilo de vida tradicional da família, não parece preciso dizer
mais nada!
•
Também não parece de estranhar que em certos momentos a vida da família tenha
se tramado tão profundamente com a do Instituto Cristão (Castro, PR) e a do
Instituto José Manoel da Conceição (Jandira SP) - precisamente os momentos em
que a vida e os estudos nessas instituições foram mais parecidos com os da
Pilgermission de Chrischona!
8. Apêndice I:
João Rickli e Berta Hecke Rickli com 10 dos filhos |
Família Rickli
brasileira – ancestrais e parentes na Europa, de nosso conhecimento em dezembro
de 2003.
Duas gerações antes de Johann Ulrich:
• Johann Jakob Rickli (avô de Johann Ulrich)
Uma geração antes de Johann Ulrich:
• Johann Ulrich Rickli (pai) 16.01.1803 -
04.07.1873
casou-se
em 22.03.1833 com
Anna
Barbara Rickli (mãe) ?.?.1809 - 04.03.1876 (nome de solteira:?)
Geração de Johann Ulrich (irmãos):
1. Anna Barbara, * 22.12.1833, +
16.06.1836 (morreu com 2 anos e meio)
2. Johann Ulrich, * Kleindietwil (Suíça),
19.03.1837, + Turvo (Brasil), 28.10.1921
Anotado
a lápis no cartório: "in Amerika geheiratet" (casou na América).
Casamento
e filhos: ver capítulo 9, logo abaixo
3. Johannes, * 26.01.1840, cas.24.08.1863,
+ 1903
Deixou
apenas uma filha, que morreu solteira.
4. Anna Maria, * 03.10.1846, + ?
Casou
em 19.04.1877 com um Sr. Hermann, marceneiro. Descendentes: ver adiante.
5. Johann Jakob, * 23.03.1851, + ?
Casou
em 15.03.1872. Teve 7 filhos, 3 morreram em criança.
Anotação
no Cartório: 'para a América'. Desconhecemos o destino dos descendentes.
6. Anna Barbara, * 22.03.1854; + ?
É
possível que tenha seguido o irmão Johann
Ulrich para o Brasil (ver capítulo Origens).
Desconhecemos
seu destino ou de possíveis descendentes.
Sobre
as irmãs n.º 1 e 6: era costume usar para novos filhos o mesmo nome dos que
haviam falecido em criança (como acontecerá entre os filhos do próprio Johann Ulrich).
Uma
geração depois de Johann Ulrich
(sobrinhos na Suíça):
Anna Maria (4
acima) e ? Hermann tiveram seis
filhos (fora de ordem):
• Samuel
• Fritz
• Johannes
• Anna
• Marie
• Lina
Gerações
seguintes:
•
Samuel e esposa morreram jovens, deixando órfão o filho Werner (* 1913, + ?), criado pelos avós maternos.
• Werner deixou 2 (ou 3?) filhos e vários
netos, que vivem hoje nas regiões de Bern e de Zürich. Uma filha respondeu uma
vez uma carta nossa, depois não voltou a responder.
Devem
existir na Suíça inúmeros descendentes de primos de Johann Ulrich, de que não temos conhecimento.
9. Apêndice II:
Família Rickli no Brasil:
descendentes de Johann Ulrich Rickli
e Rosine Weber Rickli
Johann Ulrich e Rosine chegaram ao Brasil noivos e se
casaram logo depois, em 9 de janeiro de 1870.
O
primeiro filho nasceu em novembro do mesmo ano. A família Rickli de que
tratamos aqui consiste inteiramente de descendentes de Johann Ulrich Rickli.
Tivemos
em mãos um dia o nome de alguns Rickli que viveriam na região de Rio do Sul
(SC), com os quais não sabemos se temos algum parentesco mais distante – mas
nunca conseguimos contato com eles.
Nosso
ponto de partida:
• Johann Ulrich Rickli, * Kleindietwil
(Suíça), 19.03.1837, + Turvo (Brasil), 28.10.1921
Casou-se
em Pedreira (Pirabeiraba - SC) em 09.01.1870 com
Rosine
(Weber) Rickli, * [local?], 10.07.1846, + Turvo, 12.06.1923.
Filhos
de Johann Ulrich e Rosine (dados a completar futuramente):
1. Johann Paul (conhecido como Paulo), *
26.11.1870, + ...
Casou-se
com Mina ...
Filhos
(sem garantia de ordem cronológica):
Ana Rickli Mori
Ernesto Rickli Sobrinho
(Ernestinho)
Frida Rickli ...
Jacó Rickli
Rosa Rickli ...
Rodolfo Rickli
Martinho Rickli
(Rev. Martinho)
Cristina Rickli Klopfleisch
Clara Rickli van der Berg
2. Samuel Robert (conhecido como Roberto),
* 03.01.1873, + ...
Filhos:
a incluir
3. Johann Ulrich (como o nome do pai e do
avô; conhecido como João), * 31.05.1875, + ...
Casou-se
com Bertha (Hecke) Rickli
Filhos:
(sem garantia de ordem cronológica):
Roberto
(falecido adolescente)
Cristina Rickli Scheidt
Paulo Rickli
Lídia Rickli Pugsley
Elsa Rickli Müller
Emma Joana Rickli Pobbe
(Joanita)
Frederico
Guilherme Rickli (Vile, Willy)
Artur
Rickli
Ester
Rickli Ficker
Bertha
Rickli Mehret
Timóteo
Rickli
Daniel
Rickli
Otto
Rickli
(10.12.1922-30.06.1982)
Noemi Rickli Steffen
(*1924)
4. Bertha Rosine, * 04.08.1877, falecida
em criança
5. Ernst Arnold, * 14.11.1879, falecido em
criança
6. Anna, * 21.03.1882. Faleceu adulta
porém solteira.
7. Bertha Rosine, * 08.04.1884, + ...
Filhos:
a incluir
8. Ernst Arnold (conhecido mais tarde como
Ernesto o velho), * 23.09.1886, + ...
Filhos:
a incluir
Sobre
os pares de filhos 4/7 e 5/8: era costume usar para novos filhos o mesmo nome
dos que haviam falecido em criança.
Sistema
de ordenação proposto:
Se
um dia for possível levar adiante a organização da árvore genealógica na
internet, cada um dos nomes acima (exceto os 5, 6 e 7) poderia se tornar um
LINK para a relação dos descendentes dessa pessoa.
Além
disso, cada descendente poderia figurar na lista com um número, que será mais
fácil de entender com um exemplo
(usarei
o da minha neta, pois tenho certeza dos dados):
3.13.1.1.1
- Potyra da Paz Rickli. Maceió (AL),
14.02.2001
O
número significa que ela descende de Johann
Ulrich...
• pelo seu 3.º filho (João, n.º 3)
• pelo 13º filho desse (Otto, n.º 3.13)
• pelo 1.º filho desse (Ralf, n.º 3.13.1)
• pelo 1.º filho desse (Gunnar, n.º 3.13.1.1)
• e é a primeira filha desse.
De
resto, o fato de o número ter cinco partes deixaria claro que se trata de
alguém da 5.ª geração de descendentes.
Finalmente:
dizemos "se um dia for possível levar adiante" porque se trata de uma
atividade demorada e trabalhosa, que entraria em choque com os trabalhos que
cada um de nós tem de realizar para sobreviver. É possível que somente um
aposentado bem aposentado tivesse condições de levar adiante esse trabalho – e
pessoalmente ainda estamos longe de ter isso em perspectiva!
Fonte:
Família Rickli brasileira – uma contribuição para sua história
Por Ralf Rickli
Como uma contribuição minha, segue um rascunho da árvore genealógica com os descendentes de Johann Jakob Rickli.
Veja mais: